O Dragão

Primeira parte da Trilogia da Guerra, O Dragão é uma criação a partir de fatos e depoimentos reais que trata do conflito entre israelenses e palestinos. Neste pequeno território no coração do Oriente Médio é travada uma guerra que se tornou emblemática de muitas outras.

Através do olhar de quatro personagens - dois palestinos e dois israelenses - abordamos a intimidade da dor infligida pela guerra, quebrando a visão distanciada da mídia e da análise dos especialistas para fazer surgir personagens. Interrogamos a realidade através do que eles vivem e sentem, fazendo ouvir as vozes que pouco escutamos.

Trilhando a via do teatro documentário, propusemos olhar esta complexa situação entre israelenses e palestinos sem nenhuma hierarquia, nenhuma classificação. O que colocamos em jogo são testemunhos de destinos confiscados pelo horror. Revelamos o interior das pessoas nesta experiência comum da dor onde as diferenças não separam mais, mas simplesmente nos religam. O Dragão é um espetáculo sobre o diálogo e a paz; sobre a possibilidade de encontrar atrás da crueldade e da violência uma real humanidade.

O espetáculo estreou em 2008, foi selecionado entre “Os Melhores Ano” do jornal O Globo e foi apresentado em mais de 60 cidades brasileiras. Recebeu o Prêmio Funarte Myriam Muniz de Teatro/2008 e foi indicado ao prêmio Quem de melhor ator para Stephane Brodt e melhor atriz para Fabianna de Mello e Souza.

 

"Dois sonhos podem se mover livremente sob um mesmo céu?"

Mahmoud Darwich





GALERIA




FICHA TÉCNICA

Direção Ana Teixeira
Montagem do texto Ana Teixeira / Stephane Brodt
Elenco
- Wafa e Nurit Fabianna de Mello e Souza
- Said e Shimon Stephane Brodt
- uma palestina e Yael l Kely Brito
- um palestino Cassiano Gomes
- músico Carlos Bernardo I Beto Lemos
Criação musical Carlos Bernardo
Assistente de direção Kely Brito
Iluminação Renato Machado
Figurino Stephane Brodt
Cenário Ana Teixeira
Projeto gráfico Paulo Lima
Costureira Dora Pinheiro
Cenotécnicos Equipe Hélice, Adílio Atos e André Sales
Professora de árabe Samaher Omran Muhmed
Professora de hebraico Miriam Weitzman
Produção Galharufa Produções / Erick Ferraz
Instrumentos Alaúde, Darbuka, Bodhran, Viola de Gamba.




IMPRENSA




TEXTOS

Trilogia da Guerra por Barbara Heliodora

Desde seu primeiro trabalho no Rio de Janeiro, Ana Teixeira e Stephane Brod têm mostrado, repetidamente, que o comedimento e a disciplina jamais deixam de formar a solida base sobre a qual constroem seus espetáculos; sobre ela, uma consciência clara do valor de cada uma das linguagens cênicas os tem levado a fazer uma série de positivas contribuições para o progresso do teatro brasileiro, sempre produtos de longa reflexão e detalhado preparo.

Os três espetáculos que compõem a “Trilogia da Guerra’” deixaram forte marca, e se destacam no panorama carioca, pela seriedade e a perseverança com que Teixeira e Brodt têm se esforçado para expressar em legítima manifestação cultural brasileira, o produto de suas formações européias, sempre buscando encenações simples, austeras, que usam os valores básicos do teatro para suas encenações.

A guerra, toda e qualquer guerra, tem sido tema de incontáveis obras dramáticas, de teatro ou cinema, tantas vezes exploradas pelo simples impacto que mortos, feridos e batalhas podem ter; mas no caso da “Trilogia de Guerra” do Teatro Amok, o grande mérito é a habilidade com que  tudo o que é fácil e óbvio foi abandonado, e com que foram repudiados  o patriotismo e a ideologia,  que com tanta facilidade servem para a propaganda e as exaltações . 

“Dragão”, “Kabul” e “Histórias de Famílias”, ao enveredar pelo duro caminho daqueles que sofrem a guerra, dos que não a buscam ou querem, mas são por ela vitimados, pisam em terreno difícil, delicado, e por depoimentos ou ações investigam o sofrimento humano, falam de perdas, muito além das materiais, de raízes, de membros de família que se esfacelam, de amigos que as circunstâncias tornam inimigos.

De todas essas tragédias o Teatro Amok tem falado de forma aguda, penetrante, sem um único momento de exagero ou apelação, com uma economia que torna marcas, gestos, tons mais significativos por serem poucos, exigindo do ator uma interpretação comedida, mesmo que seja, na verdade, apaixonada. 

Tudo isso, é claro, é a expressão de uma visão específica de teatro, na qual texto e ator, em um palco, não têm limites para o que podem transmitir, usando a própria imaginação para alcançar a do espectador, e fazer se realizar o milagre teatral. 

Espetáculos do nível que têm tido os do Teatro  Amok  não acontecem não acontecem por acaso; são o resultado de um trabalho dedicado e consciente, de uma paixão por atingir aquele momento extraordinário, quase miraculoso, que Ana Teixeira e Stephane Brodt acreditam que uma implacável dedicação pode criar. 

Barbara Heliodora

 


TRILOGIA DA GUERRA

Trilogia da Guerra por Ana Teixeira é uma trajetória que tem suas raízes no Ecum - Encontro Mundial das Artes Cênicas – um fórum internacional que reuniu em 2006, no Brasil, artistas, pesquisadores e profissionais em torno de uma reflexão sobre O Teatro em Tempos de Guerra. 

Qual é o papel do teatro diante do sofrimento e da violência? Como o teatro responde aos desafios e questionamentos colocados pelo mundo em guerra?
Artistas vindos de diferentes partes do mundo compartilharam suas experiências. Diferentes histórias, culturas e trabalhos apontaram para um teatro que pode testemunhar, agir solidariamente e se insurgir contra brutalidade. 

Dessas experiências, o encontro com os atores iranianos do Siah Bâzi, Saadi Afshar e Shadi Zadeh, repercutiu sobre a trajetória do Amok. O Siah Bâzi é uma forma de teatro cômico que improvisa cenas repletas de alusões à atualidade e à política. Em 2003, o governo iraniano decidiu, sem aviso prévio, fechar o Teatro Nasr – o mais antigo de Teerã. Os atores do Siah Bâziforam expulsos do lugar onde trabalhavam e ficaram desamparados, impossibilitados de exercerem sua arte. O Siah Bâzi incomodava e o público iraniano viu seu teatro ser silenciado.

A intensidade desse encontro nos impulsionou a mergulhar num projeto sobre o tema da guerra que pudesse refletir nosso desejo de afirmar o teatro como um lugar de convívio para pensar o mundo em que vivemos. Desejo também de investigar formas de dialogar com o real e procurar novas linguagens que permitam uma leitura do nosso tempo a partir de questões humanas universais. 

Assim, iniciamos um percurso que resultou na criação de três espetáculos: O Dragão (2008), Kabul (2009) e Histórias de Família (2012). Nessa trilogia apresentamos três espetáculos independentes, três retratos da guerra e três diferentes experiências de linguagem cênica. 

Nesse projeto, não pensamos na guerra como um fenômeno que atinge apenas alguns, ou um determinado povo. Nosso objetivo foi abordar esse tema a partir da alteridade. Um desejo de aproximação, de pensar a questão da violência a partir da experiência do outro buscando uma identidade humana e sem fronteiras. Para além dos limites geográficos, históricos ou culturais, o que colocamos em foco é o homem diante da violência de sua época.

Acreditamos que esse olhar em direção ao estrangeiro responde a questões levantadas pela globalização em que migração, minorias, individualismo, cultura de consumo e tentativas de hegemonia são realidades efetivas. Nossa intenção foi compartilhar nossa perplexidade diante do monstro da guerra, traduzindo isso cenicamente, em atos, sons e movimentos.

Abordamos problemas que consideramos fundamentais na história contemporânea, acreditando que o teatro pode ser um lugar de discussão desses problemas. O que pode ser dito através do discurso cênico não pode ser dito através de nenhum outro discurso (científico, político ou jornalístico) e, por isso mesmo, ele pode interferir sobre a percepção que temos do real. Nesse percurso, espetáculos, debates e encontros com o público foram indissociáveis.

Trilogia da Guerra é um projeto sobre a memória, sobre um teatro que persiste em não esquecer. Um teatro que dialoga com nossa época, com seus impasses, seus desejos, seus sofrimentos e suas esperanças.
Ana Teixeira

 











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